terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Setúbal na História



Setúbal na História
Diversos autores

Setúbal, Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, 1990
Coordenação e arranjo gráfico de Rogério Claro
ISBN 972-9339-00-7

A obra:

A obra reúne uma série de conferências sobre vários aspectos da história da cidade de Setúbal realizadas, por iniciativa da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, entre 27 de Novembro de 1984 e 6 de Junho de 1987.


Os autores:

António Osório de Castro
Carlos Gomes Bessa
Carlos Tavares da Silva
Carlos Vieira de Faria
Fernando Alves Cristóvão
Fernando António Baptista Pereira
Jorge Borges de Macedo
José Carvalho Fernandes
José Hermano Saraiva
Luís Cabral Adão
Luís de Sttau Monteiro
Manuel da Silva Martins
As apresentações que precedem cada um dos trabalhos são da autoria de António Maria Tavares de Carvalho, Rogério Claro e Estevão Moreira.


O índice:

Agradecimentos
Apresentação
A História de Setúbal, por José Hermano Saraiva
Setúbal na história religiosa, por Manuel da Silva Martins
História urbana de Setúbal, por Carlos Vieira de Faria
Setúbal, minha amada sem tempo, por Luís Cabral Adão
Arqueologia de Setúbal, por Carlos Tavares da Silva
Sobre o manuelino de Setúbal, por Fernando António Baptista Pereira
Setúbal na história da poesia, por António Osório de Castro
Setúbal na história social portuguesa, por Jorge Borges de Macedo
Setúbal por um testemunho estrangeiro, por Luís de Sttau Monteiro
Invasão do Duque de Alba em 1580, por Carlos Gomes Bessa
Setúbal na história da numismática, por José Carvalho Fernandes
A religiosidade portuguesa na cultura brasileira, por Fernando Alves Cristóvão

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Musa dos três castelos



Musa dos três castelos: poesia e prosa
António Henriques

Setúbal, A Voz de Palmela, 1969
139 pgs.
Prefácio de Cabral Adão.
Posfácio do editor António Augusto Simões.

A obra:

A primeira parte da obra integra 56 sonetos, de tema regional, um poema, «Montado Alentejano», e algumas quadras.
A segunda parte é constituída por um conjunto de textos que, na sua maioria, retratam aspectos da vida e paisagem da região de Setúbal, e que terão sido publicados na imprensa local.


O autor:

António Joaquim Henriques (25-04-1896 - ?)
Veio viver para Setúbal em 1910.
Em 1914 trabalhava numa fábrica de conservas.
Foi empregado da Biblioteca Municipal de Setúbal, onde se aposentou aos 60 anos
Era o árcade Flor de Salgueiro, da arcádia setubalense Fonte do Anjo.


Do prefácio de Cabral Adão:

«Em 1919 publicou António Henriques um folheto de versos; quase meio século passado, dá um livro à publicidade, aquele intitulado «Hino à Serra da Arrábida», este «Musa dos Três Castelos».
No prefácio do primeiro, escreveu Arronches Junqueiro estas palavras: «Relendo os seus versos, meu bom amigo, sinto neles a sua alma, simples como o assunto que canta; aberta e franca como o horizonte enorme da sua Arrábida; firme e leal como as pedrarias que esqueletam a serra; sonhadora e mística como as grutas que transpomos com o respeito de quem entra num templo, (esses versos) dão-me a sensação deliciosa de entrever uma alma através das palavras. Nem sempre isto acontece.»
Se me é lícito aproveitar a imagem, porque também a sinto, marcarei este prefácio com o sinal da transparência: através destes versos, distingue-se sem custo a alma do seu autor.
Sensibilidade e vocação poética — eis as coordenadas deste artista que tem pela Língua um culto enorme e que trata as palavras com um respeito e um cuidado dignos de nota, nos conturbados tempos de deslize, em que vivemos.
Há 50 anos começou António Henriques a escrever para os jornais com o pseudónimo João Casaleiro, mas breve suspenderia a colaboração. Muito mais tarde, por mim instigado, voltou à actividade, recomeçando com «O Pegureiro», saído na Gazeta do Sul, e continuando depois n'O Setubalense, onde ainda a mantém com maior ou menor assiduidade.
Tenho, assim, responsabilidades na publicação deste livro e delas me honro, porque, graças ao poeta, mais ao nosso editor, António Simões, vem para a luz o que ameaçava perder-se nas sombras do esquecimento.
Consta, esta colectânea, de meia centena de sonetos, do poema «Montado Alentejano» e de algumas quadras de redondilha maior.
Nos sonetos, com uma feitura muito sua, canta António Henriques, Setúbal, o seu rio, os seus laranjais e amendoais, moinhos, praias, serras e castelos, os seus festejos e heróis, as suas fontes, parques e festejos. Exalta os sentimentos, o patriotismo, o lar, a liberdade e o amor. Todos urdidos com o mais fino zelo, procurando servir as regras por que afinam esses difíceis moldes da poesia clássica, sem deixar de as alar com ligeireza de estilo e toques de musicalidade. Um há que me permito destacar, porque é soberbo de expressão e altura: «Rio Azul». Será uma pedra burilada no edifício poético criado pelos artistas que em Setúbal nasceram ou aprenderam a cantar.
E se atentarmos em que «...Era tão rudemente analfabeto / Que nem um a podia conhecer / Nem da instrução saber a utilidade...» como ele próprio confessa no soneto Mocidade, conseguindo posterior e paulatinamente uma apreciável cultura com uma férrea vontade, ampliada pelo seu entranhado amor à Natureza mãe, e pela permanência durante anos na Biblioteca Municipal, em que esteve empregado, saberemos atribuir ainda mais valia à obra que agora se ergue, na cota dos 82 anos robustos e firmes do inspirado vate.
O arquivo poético da cidade do rio azul fica enriquecido com este livro, cuja leitura refrescará o espírito aos que estimem a arte, mormente como agora, posta ao serviço duma região de belezas sem par: o perímetro dos Três Castelos.
Setúbal, Junho de 1968
Cabral Adão»


Um texto, ao acaso:

«Um passeio aos Capuchos
Corria o mês de Junho do ano de 1914. Eu trabalhava ao tempo numa fábrica de conservas ao Bonfim, na Rua de Almeida Garrett.
Combinámos a um sábado ir passar o domingo para os Capuchos, com almoço e jantar feitos e comidos no aprazível local. Juntámo-nos de manhã no mercado, para a compra do avio, segundo o combinado na véspera. Éramos vinte e duas pessoas, com as duas mulheres que seguiam por cozinheiras. Ia connosco um grupo musical de seis figurantes: guitarra, viola, dois bandolins, ocarina e flauta. Comprou-se para o almoço dez quilos de amêijoas, por três tostões; dois quilos de lombo de porco, seis tostões; uma teca de peixe, para o jantar, por um escudo, que encheu uma canastra; em duas bilhas de barro levámos trinta litros de vinho, quinze tostões; menos do custo de meio litro hoje!... Gastaram-se cinco escudos em todas as compras, incluindo a farta matadela de bicho.
A caravana partiu pelo Rio da Figueira, ao som de alegre marcha em que instrumentos e bocas colaboravam. Tudo cantava, animado de comunicativa alegria. Éramos todos gente moça; e naqueles bons tempos a vida corria farta e fácil em Setúbal. A indústria de conservas estava ao tempo em próspera actividade, trabalhando-se todos os dias e serões. Os campos ostentavam a vistosa pompa de loiras searas e ricos arvoredos. Por vezes todos emudecíamos, a escutar a ridente cantoria da passarada, nas verdejantes ramarias. As cigarras ensaiavam seus cantares de saudações às quentes reverberações da luz. Os melros, gargalhando, fugiam assustados à nossa importuna aproximação. Ouvia-se o palrar de gente pelos caminhos, seguindo como nós a gozar o dia pelos campos, entre verduras.
À ida visitámos o Sr. Arronches Junqueiro, na Quinta da Lage, admirando um rico museu e vasta biblioteca e o mais artístico presépio que até à data tínhamos visto. Bebeu-se uma garrafa de Porto, comeram-se bolos, findando a visita com o toque e canto do Hino Nacional, findo o qual nos despedimos e partimos para os Capuchos.
Era este sítio, então, o mais mimoso, pitoresco e preferido local dos muitos e belos destes arredores de Setúbal. É encantadora a vista, magníficas as sombras, com uma excelente calha de água a sair das minas, límpida e fresca, que é delícia beber-se de bruços, com a boca afundada no fio da corrente, a receber-lhe os frescos salpicos no rosto encalmado. Foi aquele um dia memorável, destes raros que enchem a vida, se gravam com doçura para sempre na memória, e o tempo vai depois patinando de poesia retocados com as tintas inapagáveis da saudade. Houve excursões pelo pinheiral que sombreava as encostas até ao alto da serra, donde a vista da região é uma maravilha. Comeu-se, bebeu-se e brincou-se todo o santo dia. Festas idênticas se faziam ao tempo por todos os arredores da cidade, O campo era então a preferida distracção da população setubalense, donde se regressava já noite fechada, a cantar, moído e contente.
Não voltámos aos Capuchos; limitamo-nos a acariciá-los de longe com os olhos, por onde toda a beleza entra em nós e nos prende, como o anzol ao peixe guloso.»

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Conheça um pouco mais de Setúbal




Conheça um pouco mais de Setúbal
José Rebelo

Setúbal, edição do autor, 2.ª ed., 1993
Apresentação de Rogério Claro

A obra:

Nas primeiras páginas da obra (12 a 24) o autor apresenta uma colectânea de lendas relacionadas com Setúbal, que já tinha editado em outra obra (Lendas de Timor, Setúbal e não só). A segunda parte do livro refere-se a factos, pessoas, espaços e património construído da cidade de Setúbal, terminando com uma referência às igrejas e capelas existentes em 1891.


O autor:

José Rebelo, capitão do Exército Português


A nota introdutória do autor

«Atendendo que são várias as pessoas, que no nosso dia a dia, nos procuram desejosas de conhecer algo sobre Setúbal de antanho, nós, procurando valer-nos dos escritos deixados pelos estudiosos amantes desta terra, iremos procurar, dum modo simples, como cousa de consulta, deixar neste nosso livro, trabalho que lhes possa ser útil.
Já temos entregue na Biblioteca Municipal uns apontamentos sobre o Regimento de Infantaria 11 e seus antecedentes. Entregámos ali igualmente fotocópias dos jornais onde temos publicados artigos ligados a Setúbal e que o leitor poderá consultar.
Também já editámos a história dos expedicionários do R.I.11 a Cabo Verde, 1941/43, onde se conta o que foi essa expedição.
E como estivemos cerca de seis anos em terras de Timor, terra que muito amamos, por escutar aquela gente a contar-nos o que sofreram com a invasão da sua terra, pelos japoneses, (1942/45) e anteriormente pelos australianos e holandeses, que foram então para eles muito mais «macios», que agora depois de Outubro de 1975, já esqueceram o bem que lhes devem, por os ocultar sempre que puderam, das vistas dos inimigos nipónicos, editámos o pequeno livro «Lendas de Timor, Setúbal e não só», trabalho que tem sido muito útil para os trabalhos escolares da nossa juventude, quando os mestres lhes marcam trabalhos deste género
Teremos que pedir desculpa por a obra não poder ser melhor, mas é que a cultura neste nosso país fica «cara» a quem deseja editar um livro sem ter apoios logo de entrada para dar andamento à edição.
Prestar as nossas homenagens desde já, para com os estudiosos e escritores que antes de nós deixaram algo sobre esta Setúbal, ou sejam, Almeida de Carvalho, Manuel Maria Portela, Alberto Pimentel, Manuel Envia, dr. Peres Claro, (felizmente ainda no número dos vivos), Agostinho Albino e tantos outros, que nas minhas pesquisas fui lendo por aqui e por ali
E como abordámos factos desde 1879 e não só, julgamos que o pequeno livro vai agradar, pois nele se vão publicar logo a entrada, as lendas sobre Setúbal, cuja primeira edição, felizmente, o «vento levou» Virão depois as Muralhas e os Baluartes; ruas de 1871 e as igrejas dessa data; Paços Municipais, antes e depois do fogo de Outubro de 1910; Praça do Sapal e depois Bocage; Casa das Varandas, dos Miranda Henriques; Casa da Guarda, etc., etc. ... Enfim, será caso para se dizer: "conheça um pouco mais desta terra."»


O índice

Apresentação, de Rogério Claro

Conheça um pouco mais de Setúbal
Agradecimento e tentando esclarecer o leitor

Falando um pouco sobre lendas:
Lenda de Setúbal
Lenda da Senhora da Arrábida
Lenda da Nossa Senhora da Anunciada
Lenda da Moura Encantada
Lenda da Pedra Furada
Lenda da Estrada da Rasca
Lenda do Poceirão
Lenda da Senhora do Carmo
Uma das Lendas da Senhora do Baluarte do Cais
Lenda do Campo da Barbuda
Lenda dos Círios da Arrábida
Lenda do S. Benedito
Lenda, ou talvez não, de Santo António
Lenda da Freira que vendia relíquias feitas com osso de vaca

Onde se fala de Muralhas, Portas, Postigos e Baluartes
Recordando vários nomes de ruas antigas de Setúbal
Recordando um pouco dos Paços do Concelho
Recordando factos ligados ao poeta Bocage
Recordando a sede do Vitória Futebol Clube
Paço do Duque, hoje Governo Civil
Casa do Corpo da Guarda
Falando de chafarizes e de Fontes
Recordando um pouco de futebol nesta cidade
Setúbal deve orgulhar-se da sua Liga dos Combatentes
Também devemos recordar Luísa Todi
Falando de casa histórica ou o que sobre ela diz Manuel Maria Portela
Praia de banhos
Falando sobre a Praça do Sapal, depois Praça do Bocage
Falando no Cruzeiro que existiu no Largo de Jesus
Recordando o Combate do Alto Viso
Recordar o dr. Paula Borba, cidadão honorário desta cidade
Também teremos de falar um pouco de Tróia
Ao recordá-los, prestamos-lhes a nossa homenagem
Fortificar
Falando um pouco de assuntos militares
Nunca será demais falar-se em bombeiros
Recordar também antigo orfanato municipal desta cidade
Torre do Outão
Asilo de infância desvalida
Falando um pouco sobre cemitérios
Recordar também o Castelo de S. Filipe
Falando também na instrução pública
De como a cidade e o seu Onze ficaram ligados a Cabo Verde
Falando da barra de Setúbal e nos deslastres
Forte ou fortaleza de Albarquel
Falando um pouco da Arma de Artilharia
Quando o saber não ocupa lugar
Falando no Pelourinho
Falando um pouco sobre a imprensa local
Recordando um pouco da cultura nesta cidade
Recordar a Sociedade Capricho Setubalense a "velhinha"

Lembrar as igrejas e capelas existentes em 1891:
Igreja e Convento de Jesus
Igreja de São Julião
Igreja de Santa Maria da Graça
Igreja de S. Sebastião
Igreja ou Mosteiro de S. João
Capela do Senhor do Bonfim, anteriormente denominada do Anjo da Guarda
Igreja de Nossa Senhora da Soledade
Igreja de Nossa Senhora dos Anjos de Brancanes
Ermida de Nossa Senhora da Graça
Ermida da Boa Hora ou dos Grilos
Igreja de Nossa Senhora da Saúde
Ermida de Nossa Senhora da Conceição
Capela Nossa Senhora do Socorro e Ordem Terceira
Falar um pouco na capela de Santo António
Recordar um pouco do Convento de Alferrara
Oratório de Mendoliva
Igreja do Senhor Jesus da Boa Morte
Igreja e Convento de S. Francisco
Capela de S. Pedro de Alcube
Igreja e Convento da Santíssima Trindade
Recordar também a antiga Igreja do Coração de Jesus
Capela de S. Francisco de Xavier
Ermida da Senhora do Livramento
Igreja de Nossa Senhora do Carmo
Ermida ou Capela do Corpo Santo
Igreja de Nossa Senhora da Anunciada

Falar também nas novas igrejas como a recordar
Recordando os cinco «passos» existentes em Setúbal


Roteiro do Tríptico de Luciano



Roteiro do Tríptico de Luciano
Óscar Paxeco

Setúbal, Câmara Municipal de Setúbal, 3.ª edição, 1999
82 p., ilustrado

A obra:

Pequenas biografias dos personagens retratados no Tríptico dos Setubalenses Ilustres, da autoria do pintor setubalense Luciano dos Santos (Setúbal, 25 de Março de 1911 - Lisboa, 12 de Dezembro de 2006). Esta obra encontra-se no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Setúbal.


O autor:

Acácio Óscar Baptista Paxeco (Setúbal, 1904 - 1970), jornalista.


O pórtico, escrito pelo autor:

«Hino de Glória bem podia ser a legenda doirada, luminosa e certa deste Tríptico em que a arte e o talento de Luciano, postos ao serviço de um bem sentido e enraizado amor a Setúbal, ergueram o melhor e mais belo Te-Deum de beleza e graça à sua e nossa terra, na glorificação magnífica de alguns dos seus mais altos valores espirituais e intelectuais.
Melhor pensando, porém, talvez achemos que esta extraordinária obra de arte — que temos como já notável página da pintura contemporânea, síntese expressiva do valor duma gente que, em séculos longos de vida laboriosa e meritória, jamais deixou de ser colmeia de intelectuais — prosadores, poetas, artistas — ficará sendo, desde agora, e pelos tempos além, a justificação eloquente e inequívoca daquela afirmação um dia lapidarmente feita por Teófilo Braga:
«Numerosos vultos históricos tiveram o seu berço em Setúbal que foi desde o fim do século XV um centro de distintíssima sociabilidade; magistrados e dignitários eclesiásticos como D. Gonçalo Pinheiro que em 1553 assinou a carta de perdão a Camões; Vasco Mousinho de Quevedo, épico notável entre a pléiade quinhentista; os Cabedos jurisconsultos célebres e também poetas; as extraordinárias irmãs Cecília Rosa de Aguiar, trágica do século XVIII, e D. Luísa Todi, a cantora que deu expressão ao bel-canto italiano, vencendo a Mara, apesar do seu método irrepreensível, deixando na história da música dramática um nome inolvidável; e neste valioso panteon destaca-se Bocage, representando a poesia repentista e imaginosa, rompendo com o falso gosto arcádico...»
De hoje em diante o notável Tríptico de Luciano ficará sendo, repetimos, a ilustração viva, a desentranhar-se em esplendor e glória, da apreciação justíssima de Teófilo. E muitos de nós, setubalenses, nados, baptizados e criados neste lindo e adorável rincão que é a nossa terra, viremos, porventura, encontrar aqui surpresas, tomar contacto e fazer conhecimento com muitos dos nossos que mal conhecíamos ou mesmo ignorávamos.
É tudo isto que faz do Tríptico que desde hoje fica a embelezar o Salão Nobre dos nossos Paços do Concelho uma grande lição de história, da história da nossa cidade, que a todos nós cumpre conhecer, para melhor a poder amar, no orgulho de quem se ufana dum grande passado de nobreza.
Nesta obra quer colaborar, na humildade das posses de quem o escreve, o presente Roteiro do Tríptico de Luciano, que, em breves regras de apontamento, recordará, embora a traços largos, as biografias dos setubalenses ilustres que mereceram à sua pátria-natal a consagração que aí fica.
Mas, o setubalense obscuro que assina este trabalho e cujo nome fica, também, de ora avante ligado, ainda que imerecidamente, a uma obra que é das que maior honra e renome darão ao nosso querido berço de origem, quedaria de mal com a sua consciência se, ao lado do nome de Luciano, o Pintor que pintou, a arte que criou, não inscrevesse o desse outro setubalense que o tornou possível e no amor à sua e nossa terra o idealizou: o dr. Miguel Rodrigues Bastos, um nome que velha amizade obriga a escrever sem adjectivos, mas ao qual a nossa gratidão de setubalenses jamais poderá negar o mais clamoroso e devido agradecimento.
Do valor do Tríptico como obra de arte não falaremos em pormenor. Não nos cabe o que à crítica pertence, nem esse é o papel deste modesto trabalho, em cuja factura seguimos não a ordem cronológica, não a do valor geralmente estabelecido, dos retratados, mas aquele por que o Pintor os dispôs nos três painéis, para que assim mais fácil seja ao observador ilustrar com a figura do biografado, a pobreza das linhas da biografia.
E na consciência de que a nossa terra fica, neste Tríptico de Luciano, com a mais bela e linda ilustração da sua história, nos contentamos e compensamos da certeza de que não fomos capazes, por nosso mal, de realizar aquele trabalho que a grandeza desta obra de arte merecia.
Fizemo-lo, porém, como soubemos, pondo nas mãos, alma aberta, o nosso coração de setubalenses.»


O índice

Intróito à 3.ª edição, por Manuel da Mata Cáceres
O Tríptico de Luciano revisitado, por Fernando António Baptista Pereira

Pórtico
Painel dos religiosos:
Padre Joaquim Silvestre Serrão
D. Pedro Fernandes Sardinha
D. Gonçalo Pinheiro
Frei João Pinheiro
Frei Agostinho da Cruz
Painel central:
Luísa de Aguiar Todi
Vasco Mousinho de Quevedo
João Soares de Brito de Barros e Vasconcelos
Chanceler Jorge de Cabedo
Manuel Maria Barbosa du Bocage
António Rodrigues da Costa
Rodrigo Ferreira da Costa
Vicente José de Carvalho
A alegoria ao foral:
Navegadores e Cronistas:
Manuel Maria Portela
Manuel Fran Paxeco
Fernando Garcia
António Maria Eusébio
Painel dos artistas:
Morgado de Setúbal
João Vaz
José Maria Pereira Júnior - Pereira Cão
Frederico do Nascimento
João Gomes Cardim
Plácido Stichini

Nota final sobre outros setubalenses ilustres, sobre a decisão de execução da obra e acerca da inauguração.


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Panorâmica: poemas a Setúbal


Panorâmica: poemas a Setúbal
Cabral Adão

Setúbal, edição do autor, 1963



A obra:

Pequena colectânea de poemas dedicados a Setúbal




O autor:

Luís Cabral Adão (Vila Flor, Trás-os-Montes, 24 de Junho de 1910 - Almada, 6 de Agosto de 1992), médico estomatologista, exerceu a sua actividade clínica em Setúbal, Alcácer do Sal e Almada.
Era o árcade Medronho da Mata da arcádia setubalense Fonte do Anjo.

O autor por ele próprio:

«O homem nasceu entre perfumes de fenos lá no Norte, longe do mar.
E a vinda para o Sul, perto do mar, refinou-lhe o pendor inato de enamorar-se da Natureza, e de cantá-la em poesia, estruturada a seu modo. Setúbal foi-lhe a segunda almofada de recostar a cabeça.
O homem é o poeta destes versos e canta por gratidão à terra que o acolheu, no XXV aniversário da sua chegada a estas paragens de encanto
(30-IV-938).
O homem... sou eu, mais o leitor que me entender.»




O poema de abertura:

Rio Azul

Não há um rio na minha terra!..
Só a três léguas, pra cada lado.
Mas eis que a vida aqui me desterra
Pra me dar um — o meu terno Sado!

Rio tranquilo, rio do Sul,
De águas puras como um cristal.
Doutro não sei, mais claro e azul,
Rio mais belo de Portugal!!!

Passo os meus dias a ver-me nele
Plas duas margens, atento e só.
Raro me ausento, me afasto dele,
Tenho mais sorte do que Feijó...

Como um ser vivo, o Sado arqueja
Todo inteirinho, da fronte aos pés.
Agora enche, logo despeja,
Ao ritmo crónico das marés.

É cuidadoso, é sossegado,
Não sofre cheias, raro trasborda.
Adolescente sempre ensonado,
Sono tranquilo que o sol acorda.

La vão os cercos plo Sado abaixo,
Ao mar vizinho, à sua lida.
«Voltem pesados, co’a borda em baixo !»
Gritam gaivotas em despedida.

Depois, ao largo, um cantar se eleva
Dos pescadores. Que lindo que é!
«Olivolé — ai arriba e leva!
Arriba e leva! — ai ólivolé!»

Mira-se a Arrabida nesse espelho
De águas serenas, à luz da aurora.
E o velho Outão, qual Neptuno velho,
E que as vigia, de dentro e fora.

Rio amoroso, beija as areias
Da Tróia nua, deitada a seu lado.
E abraça e beija brônzeas sereias
Que se refrescam na praia, a nado.

Abrem-lhe o peito, lá pra montante,
Tiram-lhe sal, alvejando em montes:
Brancas salinas de alvor brilhante,
Almas de virgens plos horizontes.

Verdes pinheiros, descendo a serra,
Vêm cautelosos molhar os pés,
Bronzes de estátua, verde que berra
Sarapintando o violento grés.
... ... ... ...
... ... ... ...
E quando, à noite, o luar se abata
No Sado azul, preguiçoso, terno,
Todo ele é salva de nívea prata
Pra as alianças dum amor eterno!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Sistemas de defesa costeira na Arrábida


Sistemas de defesa costeira na Arrábida durante a Idade Moderna: uma visão social
PORTOCARRERO, Gustavo

Lisboa, Edições Colibri, 2003
ISBN 972-772-363-2

A obra:
A obra foi elaborada com base numa tese de mestrado em Landscape Archeology (Arqueologia da Paisagem) apresentada pelo autor, em 2000, na University of Wales (Lampeter).

O autor:
Gustavo Eduardo Gonçalves Pizarro de Portocarrero (Porto, 1974), arqueólogo, é licenciado em História, variante de Arqueologia, pela Universidade do Porto e mestre em Landscape Archeology (Arqueologia da Paisagem) pela University of Wales (Lampeter)
Entre os trabalhos que realizou como arqueólogo, contam-se as intervenções no âmbito da remodelação no interior do edifício da Óptica Pita em Setúbal (Rua do Bocage n.º 29), e da remodelação do café Muralha, igualmente em Setúbal.

Da conclusão:
«(...) procurei transmitir uma abordagem mais integrada e interpretativa como alternativa às análises funcionais, estilísticas e intradisciplinares que são comuns neste género de estudos. Esta abordagem alternativa foi feita dentro de uma perspectiva de paisagem, onde diferentes elementos dos sistemas de defesa costeira foram vistos em contexto e não isoladamente como geralmente se faz. Dentro da perspectiva utilizada, acabei por privilegiar a abordagem que Preucel e Hodder designam de «paisagem como poder», na qual as paisagens são vistas como ideologicamente manipuladas em relações de domínio e resistência (1996: 33). (...)
O modelo desenvolvido neste estudo pode então ser sumariado como se segue:
No início da Idade Moderna, por volta de finais do século XV/inícios do século XVI, o sistema de defesa costeira português baseava-se no sistema tradicional de torres e fachos (sinais de fumo ou fogo) espalhados ao longo da costa. Este sistema resultava sobretudo da iniciativa das populações locais. Contudo, por esta altura, a defesa da costa começou a ficar instrumentalizada à medida que a Coroa começou a interferir mais activamente nela. As principais razões para essa interferência foram as tentativas de centralização por parte da Coroa e a formação de uma economia-mundo (da qual a Coroa retirava grandes rendimentos), actuando os portos como principais interfaces dessa actividade comercial. Sendo assim não é surpreendente encontrar nestes últimos os primeiros sinais dessa instrumentalização da defesa costeira. Estes sinais foram materializados pelas chamadas Torres Marítimas (formadas por uma torre de menagem e uma plataforma baixa) construídas à entrada dos portos e onde o uso de artilharia era já evidente. A novidade e a impressão causada por estas estruturas permitiram à Coroa um melhor controlo dos portos onde elas foram construídas. Contudo, esta estratégia limitou-se sobretudo ao porto de Lisboa. Fora dele, somente mais um par de exemplares é conhecido, dos quais um em Setúbal, denotando assim o interesse que a Coroa tinha já então por essa vila.
Em meados do século XVI, novas mudanças tornaram-se evidentes. A elite dirigente portuguesa, confrontada com crescentes pressões internas e externas que ameaçavam o seu poder, optou por soluções autoritárias e repressivas. Uma delas foi utilizar o sistema de defesa costeira para reforçar o seu poder sobre alguns dos mais importantes portos portugueses, cujo controlo era visto como vital para os interesses estratégicos da Coroa. Como tal, uma política coerente de fortificação de alguns portos portugueses tornou-se evidente por esta altura. Elementos de agressividade e desconfiança, reflectindo a ideologia que prevalecia entre a elite dirigente (a «mentalidade de cerco») são típicas deste novo sistema, O baluarte seria o elemento arquitectónico mais característico deste sistema com todo o seu simbolismo de afirmação de valores militaristas e rejeição de valores humanistas. Não obstante, este sistema viria a defrontar-se com alguma resistência local.
O carácter político do novo sistema depressa se tornou óbvio durante a invasão espanhola de 1580, quando caiu facilmente ante os ataques espanhóis. Todavia, e numa clara demonstração desse carácter político, os espanhóis decidiram manter o sistema intacto e até mesmo reforça-lo. De facto, durante o período espanhol, o sistema iria atingir um extremo de agressividade e desconfiança, assumindo uma posição particularmente hostil face às populações locais.
Por volta da década de 1630, a conjuntura política começaria a mudar. Motins populares eram constantes. Vários sectores das elites não estavam igualmente satisfeitos com a situação política, vendo na continuidade da união com a Espanha uma ameaça ao seu poder.
Temiam igualmente uma revolta popular bem sucedida que pudesse resultar na instituição de uma república. Assim, em 1640 organizaram um golpe, expulsando as autoridades espanholas e assumindo o poder. Nas décadas que se seguiram, a situação política, tanto interna como externa, foi bastante delicada para a elite dirigente pelo que esta resolveu reorganizar o sistema de defesa costeira de uma forma que reforçasse efectivamente o seu poder. Como tal, as características agressivas do sistema anterior foram em grande medida abandonadas, optando-se em alternativa pela incorporação de características mais «civis», por forma a facilitar a aceitação pelas populações locais da presença destas fortificações. Outro aspecto destas fortificações é o de que a artilharia e, onde eles se mantiveram, os baluartes, estão agora virados para o mar, enquanto antes estavam igualmente virados para terra para zonas habitadas. Agora, oficialmente, o perigo vinha somente do mar. Este aspecto juntamente com as características mais «civis» das fortificações ajudariam a criar uma ideia comum entre as populações locais de que as fortificações estavam lá para as proteger. O que está então a acontecer aqui é uma insidiosa estratégia de «corações e mentes» com vista a mascarar outras intenções da Coroa, ou seja, um maior controlo a nível local. Outra vantagem de se usar esta estratégia era a de que podia ser utilizada não só para reforçar o poder da Coroa nos portos, mas também para além deles em outras áreas costeiras onde outros grupos sociais podiam resistir às tentativas de centralização da Coroa.(...)»

O índice:
Agradecimentos
Prefácio
1. Introdução
2. A paisagem da Arrábida durante a Idade Moderna
3. O sistema de defesa costeira tradicional
4. Primeiras mudanças
5. A Torre do Outão
6. Pirataria
7. Mudanças arquitectónicas
8. Mudanças ideológicas
9. A reorganização de meados do século XVI
10. A fortaleza do Outão
11. Sesimbra e o novo sistema de defesa costeira
12. A invasão espanhola de 1580
13. O período espanhol
14. Uma nova conjuntura política
15. A reorganização de meados do século XVII: visões tradicionais
16. Santiago, Conceição e a reorganização de meados do século XVII
17. Os portos de Setúbal e Sesimbra e a reorganização de meados do século XVII
18. Os fortes do Portinho da Arrábida e do Cabo Espichel
19. Conclusão
Bibliografia
Imagens

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Vultos médicos de Setúbal


Vultos médicos de Setúbal

MACHADO, J. T. Montalvão

Setúbal, Junta Distrital de Setúbal, 1961

A obra:
Conferência realizada no salão nobre da Câmara Municipal de Setúbal, em 11 de Novembro de 1960, por iniciativa dos «Serões Médicos de Setúbal» e incorporada na celebração do primeiro centenário da cidade.

O autor:
José Timóteo Montalvão Machado (Chaves, 1892 – Lisboa, 1985), médico, era delegado de saúde do distrito de Setúbal quando proferiu esta conferência.

Os vultos médicos:
O autor fala, entre outros, de Manuel Rodrigues Coelho (nascido em Setúbal, em 2 de Fevereiro de 1687), autor da Pharmacopeia Tubalense Chimico-Galenica, Vicente José de Carvalho (Setubal 1792 - Porto 1851), professor de Anatomia e Fisiologia da Escola Médica do Porto, António Rodrigues Manito (natural de Coimbra), Francisco Aires Soveral (natural de Belas, Sintra), Domingos Garcia Peres (natural de Moura), Fernando Garcia (natural da Vidigueira, que começou a exercer clínica em Setúbal em 1907), Francisco de Paula Borba (Angra do Heroísmo, 1872 - Setúbal, 26 de Setembro de 1934).

Assim começou a conferência:
«Vultos médicos de Setúbal!...
Que tema tão aliciante, para ir em peregrinação através dos séculos, quais romeiros da História, que, de túmulo em túmulo, vão visitar os grandes da nossa arte, aqueles que por suas qualidades e virtudes deixaram rasto indestrutível na vida terrena.
Vultos médicos de Setúbal! Que em séculos passados vos entregastes a socorrer os enfermos, por essas ruelas e travessas do velho burgo sadino, subindo as escadarias dos poderosos, entrando nas choupanas dos humildes, tantas vezes sucumbindo com eles e no meio de eles, em tempo de epidemia, vitimados em nome do dever profissional, pela peste, pelas bexigas ou pelo tabardilho.
Vultos médicos de Setúbal! Vai para vós o preito mais respeitoso das minhas homenagens, acompanhado das minhas prévias desculpas, porque hei de ser fatalmente e involuntariamente injusto, pela pobreza de informações que encontrei ao meu dispor, mesmo depois de sacudir o pó aos velhos alfarrábios em que se pode alicerçar a história da Medicina em Portugal.»

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Os azulejos setecentistas do Convento de Brancanes



Os azulejos setecentistas do Convento de Brancanes em Setúbal, actual Batalhão do Serviço de Saúde
RODRIGUES, Fernando Manuel Matos

s.l, edição do autor, 1987, ilustrada

A obra:
Descrição, ilustrada com 28 fotografias, dos azulejos do Convento de Brancanes.

O autor:
Fernando Manuel da Silva Matos Rodrigues (1936), coronel médico, foi comandante do Batalhão do Serviço de Saúde entre 1986 e 1987, altura em que esta unidade do Exército Português esteve instalada em Setúbal, no Convento de Brancanes.

A introdução da obra:
«Se alguma coisa permanece do antigo Seminário para Missionários Apostólicos Franciscanos de N.ª Sr.ª dos Anjos, de Brancanes, para além do seu enquadramento paisagístico, no alto do morro arborizado que parece dar as boas vindas a quem chega a Setúbal pela estrada n.° 10, são sem dúvida os painéis de azulejos que, apesar de degradados, ainda impressionam agradavelmente quem os contempla.
Pouco resta da primitiva arquitectura. Em 1807 sofreu a ocupação pelas tropas napoleónicas que no Convento de Brancanes instalaram o seu Hospital Militar. Em Julho de 1833, aqui passou o exército liberal. Mas as mais marcantes alterações sobrevieram sobretudo após a Revolução de 5 de Outubro, não só pelas destruições então praticadas, como, principalmente, pelas sucessivas transformações que foi sofrendo com a adaptação a quartel, primeiro o Grupo Independente de Artilharia de Costa e em último lugar o actual B. S. S., com diversas outras forças militares de permeio. Para uma tentativa de datação dos painéis em causa, julgo importante resumir a história do primitivo Seminário.
Por especial empenho de Frei António das Chagas e com o patrocínio de D. Pedro II, foi lançada a primeira pedra do Seminário para Missionários Apostólicos de Brancanes no dia 27 de Junho de 1682. A construção, dirigida por Pedro da Silva Dodarte, sofreu certamente com o falecimento de Frei António das Chagas menos de quatro meses depois, a 20 de Outubro de 1682.
Sabe-se que D. Pedro II promoveu a construção, financiando-a em cerca de 60 000 cruzados, sendo o restante obtido por dádivas, como a do Bispo da Guarda, que contribuiu com 200 mil réis e pelas esmolas de sal que davam os donos das marinhas.
Cerca de 14 anos depois do lançamento da primeira pedra, foi inaugurada a igreja, no dia 18 de Dezembro de 1696, com a assistência de D. Pedro II.
Com o falecimento deste monarca, a 1 de Dezembro de 1706, a obra é quase de todo abandonada, por desinteresse dos padres do Varatojo, que não desejavam a transferência, de Torres Vedras para Setúbal.
Em 22 de Junho de 1711, D. João V visita Brancanes e ouve do primeiro guardião, Frei Manuel Mação, as seguintes palavras: «Contra vós, pientíssimo Rei, clamam talvez hoje essas pedras que aí vedes, no Supremo Tribunal Divino, porque elas foram erguidas pela magnanimidade de vosso pai, em serviço de Deus e satisfação à vontade do venerável Frei António das Chagas. E agora que se espera?! Espera-se que as entreguemos a estranhos, contra o voto do vosso sereníssimo pai e contra o daquele venerável padre!» -- que o decidem, depois de ouvidos os seus conselheiros, a pôr o Convento sob a sua protecção e manda continuar a obra.
Dadas as dificuldades financeiras com que os construtores se depararam, imagino que, à data da inauguração da Igreja, ainda o Convento levaria atrasada a sua construção, não se fazendo ideia do adiantado da obra por altura do falecimento de D. Pedro II, nem de quando foi finalmente dada por concluída, presumindo-se, todavia, que o terramoto de 1 de Novembro de 1755 o encontrasse terminado, uma vez que, tendo sido poupado, alojou então, provisoriamente, a Câmara Municipal de Setúbal, que fora destruída.
No que parece não haver dúvidas é nas características joaninas dos painéis que iremos descrever, o que leva a crer na sua fabricação e aplicação nos locais a que foram destinados, entre os anos de 1711 e 1755.
Dos vários núcleos existentes, parecem-nos mais antigos os azulejos da Capela de N.ª Sr.ª da Guia, o que constitui de certo modo um mistério, considerando que esta foi arrombada e incendiada no dia 4 de Outubro de 1910 e reconstruída pelo tenente-coronel Oliveira Leite, em data desconhecida. Estamos em crer que os painéis desta Capela -- pelo menos os que se conservam -- resistiram às agressões então praticadas e que a Capela, se não mais antiga que o próprio Convento, terá sido o local escolhido para aplicação dos primeiros revestimentos cerâmicos destinados a Brancanes.
No sentido oposto, cremos que o mais moderno painel é o da soterrada Fonte de João Baptista — que, aliás, só podemos apreciar através da documentação fotográfica existente. Por esta, nos parece que o painel em causa, de características barroco-tardias, é de uma época já pós-terramoto, provavelmente dos finais do século.
Além dos referidos, existem em Brancanes vários outros painéis que agruparemos por comodidade de descrição, nos seguintes grupos:
I - Capela de Nossa Senhora da Guia
II - Átrio da igreja, actual capela do B. S. S.
III - Jardim e portaria
IV - Claustro
V - Terraço
VI - Fonte de São João Baptista»


Notas:
A obra inclui ainda a transcrição de um pequeno texto de Arronches Junqueiro sobre uma fonte existente em Brancanes, a Fonte do Lagarto.

O índice:
Introdução
I - Capela de Nossa Senhora da Guia
II - Átrio da igreja. Actual capela do BSS
III - Jardim e Portaria
IV - Claustro
V - Terraço
VI - Fonte de São João Baptista
Bibliografia

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Setúbal medieval: séculos XIII a XV



Setúbal medieval: séculos XIII a XV
BRAGA, Paulo Drumond

Setúbal, Câmara Municipal de Setúbal, 1998
Apresentação da A. H. de Oliveira Marques
520 pgs.
ISBN 972-9016-26-7


A obra:
Dissertação de mestrado em História da Idade Média elaborada sob a orientação do Prof. Doutor A. H. de Oliveira Marques e apresentada, em 1992, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

O autor:
Paulo César Drumond Braga (1965)

Do proémio do autor, escrito em Fevereiro de 1998:
«Tendo começado, em 1984, quase sem método, ainda, a recolher documentos para um futuro trabalho de grande fôlego, surgiu, enfim, na frequência do segundo ano do curso de Mestrado de História Medieval, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a possibilidade de dedicar a Setúbal a mesma atenção que a historiografia medieval portuguesa recente vinha dirigindo a urbes diversas, O bom acolhimento que o Prof. Doutor A. H. de Oliveira Marques, verdadeiro responsável pela renovação recente dos estudos de história urbana medieval, deu à ideia, determinou a sua «promoção» a tese de Mestrado. Faria Setúbal Medieval.
O que até então se escrevera sobre a vila dos séculos XIII a XV havia sido pouco e algo desconexo. O corpus imenso, mas caótico, que Almeida Carvalho reuniu no século passado, com vista ao levantamento da síntese que já então, na sua mente, se impunha, acumula-se (com edições parcialíssimas modernas) no Arquivo Distrital de Setúbal, arrumado em centenas de pastas, mas colmatando a falta imensa e à primeira vista intransponível, que é a da ausência da documentação camarária. Esta, de facto, desapareceu com o incêndio verificado no edifício da edilidade, em 5 de Outubro de 1910. O fundo Almeida Carvalho não pode, todavia, ser encarado como um estudo global da vida setubalense de antanho, pois embora boa parte do material sobre o qual foi estabelecido seja de primeira água (além dos livros da câmara, a documentação da Torre do Tombo, como chancelarias reais, livros de Odiana e Ordem de Santiago), falta-lhe a arquitectura final. Para além disso, enferma dos imensos preconceitos ideológicos do seu compilador.
Antes dele, surgira já uma síntese, ou uma tentativa disso, a Memoria... de Alberto Pimentel, de 1877, construída, como o próprio confessa, sobre elementos recolhidos por um ilustre erudito local, Manuel Maria Portella. Além de imprecisões de facto, enferma dos erros comuns à historiografia oitocentista, sobretudo à «localista» e de divulgação.
Depois, que temos? O vazio. Se homens como Luís Gonzaga do Nascimento e Fernando Falcão Machado, deixaram, nos anos 40 e 50, meia dúzia de artigos dispersos; se, nas décadas de 50 a 80, Rogério Peres Claro mandou para os prelos alguns trabalhos de real mérito, mas quase todos referentes a épocas mais recentes da história setubalense - nada de sínteses no horizonte, precisamente por faltar a análise, cuidada, persistente, separando com rigor o trigo do joio.
Menção especial para as poucas páginas que Virgínia Rau, na sua história do sal, consagrou aos primeiros séculos de vida do burgo sadino. Escritas por alguém que nada tinha a ver com um certo «cocabichismo local», como diria Vitorino Magalhães Godinho, constituíram, durante muitos anos, o que de melhor se possuía sobre a matéria - mas, inexplicavelmente, ignoradas por quem de direito!
Depois, foi o boom localista dos anos 80, centrado sobretudo em estudos de cariz mais arqueológico, como os de Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares, ou mais voltados para a história da arte, como os de Fernando António Baptista Pereira e José Custódio Vieira da Silva, ou ainda prestando atenção a épocas históricas posteriores à medieval, tal é o caso da brilhante dissertação de Mestrado de Laurinda Abreu. Saliente-se ainda o aparecimento de uma revista local, que veio, contudo, a morrer passado pouco tempo, a realização de dois encontros, um de estudos locais, em 1988, e outro comemorativo do quinto centenário do Convento de Jesus, em 1990, e um ciclo de conferências, entre 1984 e 1987, promovida pela Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão. Em tudo isto o que se verifica é que a percentagem de estudos sobre a Idade Média continua a ser confragedoramente pobre.
Por tudo isso, afigurou-se-me que o «contágio» sofrido nos últimos anos entre a história local medieval e a historiografia de ofício, graças a Oliveira Marques, poderia dar bons frutos, se aplicado a Setúbal. E assim surgiu o presente trabalho, primeiro como tese de mestrado, agora como livro.»

O índice da obra:
Apresentação (A. H. de Oliveira Marques)
Proémio
Introdução. As origens de Setúbal
A lenda das origens
A época
pré-romana
A época romana
A época pós-romana
1. A área urbana
1.1. Superfície intra e extra-muros
1.2. Compartimentação interna
2. A população
2.1. Quantitativos e variações
2.2. Repartição funcional
2.3. Migração, emigração e imigração
3. A propriedade
3.1. Tipos de propriedade
3.2. Formas de propriedade
3.3. Posse dos meios de produção e circulação
4. A economia
4.1. A produção
4.1.1. Agricultura e pecuária
4.1.2. Caça e exploração florestal
4.1.3. Pesca
4.1.4. Salinicultura
4.1.5. Produção «industrial»
4.2. Circulação e distribuição
4.2.1. Transportes e comunicações
4.2.2. Comércio interno
4.2.3. Comércio externo
4.2.4. Moeda e preços. Pesos e medidas
4.3. O consumo
5. A sociedade
5.1. Clero
5.2. Nobreza
5.3. Terceiro Estado
5.4. Minorias étnico-religiosas
5.4.1. Mouros
5.4.2. Judeus
5.4.3. Escravos
5.5. Família e sexualidade
6. Administração pública e justiça
6.1. Legislação
6.2. Posição da vila na administração geral do País
6.3. Concelho. Orgãos e autoridades
6.4. Finanças locais
6.5. Administração da justiça
6.6. O tabelionado
6.7. Delegações a Cortes
6.8. Organização militar local
7. Religião
7.1. Organização religiosa
7.2. Igrejas e conventos
7.3. Outras casas religiosas
7.4. Confrarias
7.5. Vida religiosa da cidade
8. Alguns aspectos culturais
9. Higiene e saúde urbanas
9.1. Abastecimento de água
9.2. Assistência e beneficência
10. Setúbal na conjuntura medieval portuguesa
Conclusão
Fontes e bibliografia

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Luísa de Aguiar Todi



Luísa de Aguiar Todi
RIBEIRO, Mário de Sampayo

Lisboa, Revista «Ocidente», 1943
91 pgs., 8 gravuras

A obra:
Pequena biografia de Luísa Todi, onde o autor reuniu o resultado da investigação que tinha desenvolvido até à data acerca da vida da cantora setubalense.
Merecem especial relevo as notas e as ilustrações.

Do prefácio do autor:
«Há bons dez anos que, teimosamente e mau grado todas as dificuldades surgidas em matéria de relações internacionais, amontoo dados e achegas para um estudo biográfico de Luísa de Aguiar Todi, bem como da sua carreira artística, mas estudada no ambiente setecentista em que decorreu.
Muito é o que tenho conseguido reunir e – creio-o bem – outro qualquer já teria publicado dezenas de escritos sobre a personalidade da cantora se se encontrasse nas minhas circunstâncias. Não o fiz, porém, e não o fiz porque desejava desobrigar-me de uma só vez de compromisso tomado comigo próprio.
Mas, é bem certo: o homem propõe e Deus dispõe… E não há contrariedade que não tenha surgido, nem compilação que não tenha quase impossibilitado as buscas e investigações no estrangeiro desde 1936 – primeiro a guerra de Espanha, depois o conflito actual.
Porque não tenho a vida na mão, resolvo-me a dar a público uma parcela do que tenho logrado apurar – a que julgo bastante para completar ou para rectificar o que outros escreveram até agora.
A matéria do presente volumezinho é apenas a conferência que, a convite do grupo «Amigos de Lisboa», fiz na Alameda de S. Pedro de Alcântara, na tarde de 24 de Julho último, enriquecida com notas e ilustrações.
O teor da conferência é a refundição parcial de outra, realizada em 1934; não tem novidade de maior.
Outro tanto não se dá com as notas e ilustrações, muitas das quais – espero-o – serão desconhecidas e, por isso mesmo, saboreadas e apreciadas por quantos se prezam de querer saber dos valores da terra.
Muito mais poderia dizer se se não tratasse apenas de anotações a uma conferência, que suscitou interesse, apesar de não ser novidade. O que digo ou o que mostro, porém, antolha-se-me suficiente para um mais exacto conhecimento da vida e dos méritos da Todi.

Vale.
Lx.ª – MCMXLII – 1/IX
Mário de Sampayo Ribeiro»

O autor:
Mário de Sampayo Ribeiro (Lisboa, 4 de Dezembro de 1898 - 1966)
Sobre o autor pode ler:
(i) http://www.caum.pt/reportorio/info_compositor.php?id=215
(ii)
http://lusitana.org/il_fcq_os_ultimos_mestres.htm

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Índice de títulos



Os azulejos setecentistas do Convento de Brancanes --- Fernando Manuel Matos Rodrigues --- 1987
Conheça um pouco mais de Setúbal --- José Rebelo --- 1993
Luísa de Aguiar Todi --- Mário de Sampayo Ribeiro --- 1943
Musa dos três castelos: poesia e prosa --- António Henriques --- 1969
Panorâmica: poemas a Setúbal --- Cabral Adão--- 1963
Roteiro do Tríptico de Luciano -- Óscar Paxeco -- 1999
Setúbal na história --- Diversos autores --- 1990
Setúbal medieval: séculos XIII a XV --- Paulo Drumond Braga --- 1998
Sistemas de defesa costeira na Arrábida durante a Idade Moderna: uma visão social --- Gustavo Portocarrero --- 2003
Vultos médicos de Setúbal --- José Timóteo Montalvão Machado --- 1961

Índice de autores



Diversos autores --- Setúbal na história --- 1990
Cabral Adão --- Panorâmica: poemas a Setúbal --- 1963
Paulo Drumond Braga --- Setúbal medieval: séculos XIII a XV --- 1998
António Henriques --- Musa dos três castelos: poesia e prosa --- 1969
José Timóteo Montalvão Machado --- Vultos médicos de Setúbal --- 1961
Óscar Paxeco -- Roteiro do Tríptico de Luciano -- 1999
Gustavo Portocarrero --- Sistemas de defesa costeira na Arrábida durante a Idade Moderna: uma visão social --- 2003
José Rebelo --- Conheça um pouco mais de Setúbal --- 1993
Mário de Sampayo Ribeiro --- Luísa de Aguiar Todi --- 1943
Fernando Manuel Matos Rodrigues --- Os azulejos setecentistas do Convento de Brancanes --- 1987